quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"O IMBATIVEL SÓCRATES"

ARMANDO RAMALHO

Candidato a Secretario Geral do Partido Socialista


Na última semana do passado mês de Novembro a maioria socialista aprovou o orçamento do Estado para 2009.
É o terceiro orçamento aprovado somente pela maioria socialista, repetindo-se o cenário dos últimos três anos, com a oposição unida no voto de rejeição.
Possivelmente, em tempos normais de jogo democrático, não existiria dramatismo algum por tal circunstância, mas, dado que o país e o mundo se deparam com um gravíssimo problema, de contornos ainda não previsíveis, além dos ditos normais da governação, seria avisado e de bom senso criar, no mínimo, um clima de apaziguamento na sociedade e nas opções políticas no Governo da nação.
É este o estilo do actual PS sobre a batuta do actual Secretário-Geral: despachar as oposições como quem termina o expediente do dia.
Da mesma forma, a Comissão Nacional, reunida numa pequena manhã do sábado seguinte, teve igual sorte. Unanimidade de rigor, considerações sobre as possíveis candidaturas a Secretário-Geral desafiantes e displicentes.
Fomos brindados com mais uma graçola estatutária, (não existe espaço para mais) depois de, na última reunião magna do partido, ter baixado de dois para um euro as quotas dos militantes - o que facilita o caciquismo, quando pagam as quotas da rapaziada - para que a debandada não seja geral. Agora, a novidade da coerência bacoca de impor a famosa paridade, como uma medida da mais relevante actualidade política.
Bem prega Frei Tomas, faria muito melhor dando o exemplo no seu Ministério, mas aí a história é outra. Consideraram as iluminadas alminhas se há, porventura, paridade (tantos homens como mulheres) nos aderentes ao partido?
É isto governar o partido sem sentido democrático, pois nas franjas do poder, qualquer que ele seja, existem sempre as “quotas do costume”, com a legitimidade e a perenidade asseguradas para todos. É um fartar camaradas.
A análise é simples: marcadas as “directas” para dia 13/14 de Fevereiro e o congresso a 27, 28 e 1 de Março, considerando que o mês do Natal não é próprio à actividade política, teremos um (1) mês e dez (10) dias úteis para proclamar qualquer candidato “com coragem”, e as suas políticas para o Partido e para o País. A elegância do Presidente não lhe permitiu dizer “loucura” em vez de coragem.
A provar a salutar vida democrática no partido, as listas de delegados ao congresso serão, como de costume, listas únicas. Os votos em urna devem ser os dos eleitos e pouco mais.
A romaria acontecerá “num lugar perto de si” onde ser visto e dar nas vistas é o mais importante acto político. Cabeças seguras da sua importância, outras nem tanto, darão largas ao seu contentamento luzidio, como os carrinhos próprios que exibem em idênticas circunstâncias.
Qualquer militante com alguns anos de partido recordará, no mínimo, os dois últimos Secretários-Gerais que, por razões diversas, abandonaram o partido e o país. É uma triste sina, de facto, só falta saber o que levará o actual daqui para fora.
Faço votos de que não sejam varridos da mesma forma que os socialistas italianos, fugidos à justiça. É sempre reconfortante rever os esclarecidos ensinamentos de Norberto Bobbio (1909-2004) socialista italiano. Que recomendava ao secretário-geral do PS italiano que os partidos políticos não são o inimigo, são sim adversários políticos com quem se deve dialogar.
Bettino Craxi de seu nome, tinha outra agenda a cumprir, como mais tarde todo o mundo soube, paz à sua alma. E à do Partido Socialista italiano também.
A solução em democracia, se ela é verdadeira, existe. Consiste em eleições, um meio para os indivíduos se livrarem de políticos e políticas ineficientes.
É, em princípio, uma razão para não se desesperar, e é razoável esperar que numa democracia adulta os fracassos do Governo possam ser expostos e eliminados.
Os órgãos de comunicação, com honrosas excepções, como é clássico, têm a sua própria “agenda”, em regra “cheiram” o sangue ou de onde lhes vem a conveniente sobrevivência. As ditaduras eram igualmente eficazes em tais domínios, aí já estamos em paridade económica e política.
A conquista do poder e a sua manutenção já só provocam apatia e desinteresse nas pessoas, dado que as diferenças na acção governativa, por todos os partidos, são incompreensíveis para a grande maioria dos cidadãos, não esperando benefícios pessoais pela eventual preferência por qualquer candidato, como se verá. Cuidado com o voto de erro de “casting”. Este existe para castigar.
Assim, os altos níveis da abstenção nos recentes actos eleitorais revelam que a democracia está fragilizada e que o Estado se encontra longe das aspirações dos cidadãos.
Uma verdadeira democracia significa mais do que um simples direito de eleger e ser representado por um político eleito, deve existir o direito de não ser penalizado por acções arbitrárias de políticos e políticas burocráticas, que no fundo replicam o chefe.
A verdadeira democracia inclui a verdadeira liberdade de criticar os políticos burocratas e as políticas de privilégios, sem intimidação ou outros constrangimentos.

Armando Ramalho

1 comentário:

Contesta disse...

Meu Caro:

Texto mt interessante, em que são aflorados pontos cruciais para a democracia interna do Partido e não só.
No entanto e na minha opinião demasiado extenso para um Blog, com o inconveniente de, tocando nas feridas, não dá receitas ou no minimo pareceres.
Repare por exemplo na questão das "mulheres". Vai ser giro ver as "loiras" a aparecerem . . .
Elas tal como muitos "eles" já alguma vez fizeram algo pelo País, pela zona onde moram ou até no local onde trabalham? Já alguma vez fizeram algo pelo Partido?
Então como são escolhidas? Como são "ordenadas"?
Para não me alongar não falo de outros pontos do texto original, mas há tanto para dizer...
Continue nessa luta, para a qual desejo as maiores felicidades.